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Gaita Galega moderna, em
Si, com ronco e ronqueta, em madeira de buxo - (foto: cortesia Museu da Gaita de Xixón,
Astúrias).
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Galiza
(Espanha) |
Este modelo de gaita é originário da
Galiza, onde é conhecido por "gaita" ou
"gaita-de-fole" (à semelhança do que acontece em
Portugal). Os instrumentos portugueses do género, sobretudo os que podem ser encontrados na costa ocidental portuguesa, são muito semelhantes, com a diferença de possuírem apenas dois tubos sonoros (um tubo melódico e um único bordão).
O instrumento na foto, feito em madeira de Buxo, possui três tubos sonoros: ponteiro (tubo melódico cónico, de palheta dupla) ronco,
e ronqueta. O ronco e a ronqueta são os bordões, equipados com uma
palheta simples (palhão) e emitem uma nota pedal, na tónica do ponteiro.
O ronco soa duas oitavas abaixo do ponteiro e a ronqueta, apenas uma oitava
abaixo deste. O ronco encontra-se colocado sobre o ombro esquerdo do gaiteiro e a ronqueta
é disposta lateralmente sobre o braço direito.
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Gaiteiro
galego (foto:
Owen Franken).
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As gaitas galegas mais antigas vêm muitas vezes equipadas apenas com um ronco, ponteiro e ronquilho (este último afinado na quinta do ponteiro), o que lhes confere uma sonoridade muito característica. O ronquilho
(um tubo sonoro mais pequeno) pode emitir uma nota pedal afinada na quinta do ponteiro, caso esteja equipado com uma palheta
dupla, (os ronquilhos autênticos) ou uma nota pedal na tónica do ponteiro, caso leve um palhão
(palheta simples), de introdução mais recente.
As gaitas galegas mais antigas possuíam também um tipo de
digitação fechada (ou seja, levanta-se apenas um ou dois dedos para cada nota,
tapando os outros buracos)
e é comum encontrar hoje muitos gaiteiros que recuperaram essa
digitação, por causa das suas possibilidades melódicas - ainda que
seja a digitação aberta a mais expandida hoje em dia.
Os ponteiros das gaitas galegas modernas têm a capacidade de emitir uma escala cromática, embora não
perfeita, com uma gama de oitava e meia (as gaitas mais antigas apenas emitiam uma escala diatónica, com uma
oitava).
As gaitas modernas possuem inclusive um intervalo de apenas meio-tom da sensível em relação à tónica (um resultado da procura de uma afinação
temperada).
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Perfecto
Feijoo e Ricardo Portela: dois nomes hoje lendários de dois
recuperadores da gaita galega, no princípio do Século XX.
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Apesar de nos últimos anos – sobretudo a partir dos anos 70 do século XX - este modelo de gaita, com esta configuração, se ter tornado popular em toda a Galiza (resultado da estandardização dos processos de fabrico), a variedade de modelos e afinações mais antigas é surpreendente e de uma riqueza já pouco lembrada pelas gerações mais novas, com gaitas afinadas em Dó#, MI b, Si, Ré,
etc.
Assim, os modelos hoje comercializados são resultado da massificação das técnicas de fabrico e da procura de instrumentos temperados que se adaptassem aos padrões da música
moderna. Devido à sua transformação tecnológica, nos últimos anos este modelo de gaita - com uma escala quase cromática
e temperada - tem-se popularizado entre muitos grupos musicais (não só na Galiza) e nas comunidades de emigrantes galegos espalhadas um pouco por todo o mundo. Na Galiza existe neste momento uma enorme comunidade de músicos, professores, artesãos e investigadores, dedicada exclusivamente a este
instrumento.
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Gaita em
Dó#
(306kb)
Neste excerto podemos ouvir um exemplar galego mais antigo, afinado em Dó#, tocado por Pablo Carpinteiro
e que possui um timbre muito característico.
O género musical interpretado é uma Jota.
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Gaita de Cana
(182kb)
A uniformização e desenvolvimento tecnológico da gaita galega, levado a cabo a partir dos anos 70, acabaram por fazer esquecer muitas outras formas musicais e instrumentos igualmente importantes, se bem que poucos conhecidos. A gaita de cana, de tubo melódico cilíndrico,
é um instrumento tradicionalmente construído por pastores.
Possui uma sonoridade extremamente interessante. Este excerto,
tocado pelo investigador Pablo Carpinteiro, é a popular dança
"Muinheira".
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Xosé Manuel Budiño, Susana Seivane e Carlos Nuñez: três exemplos da
"Nova Geração" de gaiteiros galegos.
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O
gaiteiro José Cardelle Portos (circa 1950), a imagem clássica de um
gaiteiro galego.
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Os grupos de gaiteiros galegos são muito semelhantes àqueles que podem ser encontrados em Portugal: um ou mais gaiteiros acompanhados de caixa e bombo e, por
vezes, clarinetes.
A introdução de diferentes afinações e tonalidades nas gaitas
galegas veio permitir, por exemplo, que vários gaiteiros toquem gaitas de tonalidades diferentes em
conjunto, explorando novas vertentes musicais, como a utilização de
polifonias, acordes e harmonias pouco comuns até há pouco tempo na música tradicional - pelo
menos, na música de gaita -, muito por força da influência da música
clássica e da inclusão de instrumentos temperados nas agrupações musicais
populares, como clarinetes, etc.
A importação recente para Portugal de um grande número de gaitas de origem
galega (fabricadas de forma quase industrial), tem também levado à substituição de
muitos exemplares portugueses - que apesar de serem semelhantes, mantêm características únicas.
A relativa perda da diversidade do instrumento na Galiza é hoje
lamentada por muitos gaiteiros galegos, que vêem em Portugal uma
oportunidade para que tal não aconteça de novo.
Galiza: a
extraordinária diversidade
A variedade de gaitas galegas é enorme, apesar da relativa perda de
diversidade que foi trazida pela industrialização do seu fabrico e a
uniformização recente dos modelos de gaitas.
Apesar de tudo, há testemunhos bem vivos da grande diversidade de
modelos existentes no passado, que foi resultado do relativo
isolamento das aldeias galegas, associado à geografia, materiais
disponíveis e opções pessoais dos tocadores.
Eis alguns exemplos:

Gaita Galega com
Ronquilho. Detalhe
do Ronquilho
O Ronquilho
é um pequeno tubo sonoro, equipado com uma palheta dupla, igual à do
ponteiro, que emite uma nota pedal na quinta deste. O seu som agudo,
combinado com o do ponteiro e do ronco, produz um efeito muito
característico.
(foto: colecção pessoal do investigador Pablo Carpinteiro).

Outra gaita
galega, em madeira de buxo (note-se a cor escura do buxo envelhecido).
(foto: colecção pessoal do investigador Pablo
Carpinteiro).

Gaita Galega com
Barquim (fole mecânico) e buxa única para os bordões, em Si.
Este tipo de gaita surgiu na Galiza a partir do Séc.XIX e era muito
popular na zona do Baixo Minho (Sudoeste da Galiza). Note-se a
ausência de um soprete, que é substituído na sua função por uma
fole mecânico, accionado pelo braço direito do tocador.
Muitas gaitas-de-fole europeias com esta configuração surgiram no
período Barroco.
(foto: colecção pessoal do investigador Pablo
Carpinteiro).

Detalhe do fole mecânico e da buxa única que aloja
ronco e ronqueta paralelos.
Links:
Associação
de Gaiteiros Galegos
www.gaiteirosgalegos.com/xoops/modules/news/
Portal da
Asociacion de Gaiteiros Galegos, com documentos, história e
informações sobre a comunidade de gaiteiros galegos.
Obradoiro de
Gaitas Seivane
www.seivane.es
A família Seivane
é famosa pela qualidade das gaitas que constrói, desde há pelo menos
duas gerações. A filha e neta dos artesãos Seivane, Susana Seivane, é
também uma prestigiada intérprete de Gaita Galega.
Texto: Miguel Costa (Associação Gaita de Foles), 2005 - Direitos Reservados
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