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Trás-os-Montes
Gil do Cubo -
gaiteiro transmontano de São Julião (foto: Anne Caufriez,
1998).
Em Trás-os-Montes existe um tipo de gaita, de construção artesanal,
semelhante morfologicamente à gaita sanabresa ou alistana, (de
Sanabria e Aliste, comarcas espanholas fronteiriças). Possui um ponteiro de furação larga, de digitação aberta, preso no pescoço de
um fole de cabrito, com um ronco, maciço, pesado, preso na pata direita e o
soprete preso na pata esquerda; a tonalidade oscila entre Si, Si bemol e
Lá, dependendo dos artesãos. Possui uma escala que por vezes pode
estar afinada numa escala diatónica menor natural, harmónica ou
melódica. Segundo
Alberto Jambrina Leal
(1), é
possível encontrar exemplares afinados com uma 3ª neutra e em várias
ocasiões, com o 6º e 7º graus neutros com quase 1/4 de tom abaixo - o
que ao ouvido humano dá a sensação de escala menor, com uma subtónica
em vez de sensível e de 3º e 6º graus baixos.
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Aberto (Póvoa, Miranda do Douro), Gaita-de-fole: Paulino Pereira
João - Caixa: Paulino José Raposo - Bombo: Domingos Alfredo Falcão.
Gravação de Domingos Morais, 1985.
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Carvalhesa (Moimenta de
Vinhais). Gaita-de-fole: Carlos Gonçalves - Pandeiro: Carmo Garcia -
Ferranholas: Iria dos Anjos. Gravação de Ernesto Veiga de Oliveira,
1963.
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Alvorada de Rio de Onor (Rio
de Onor, Bragança). Gaita-de-fole: João Prieto Ximeno - Percussão:
João Manuel Fernandes. Gravação de Ernesto Veiga de Oliveira, 1963.
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A generalidade das gaitas deste tipo parecem seguir mais ou menos esta escala,
semelhante às escalas usadas na flauta pastoril e nas tonalidades vocais utilizadas
na região.
Também aqui a formação mais habitual é o grupo de
Gaiteiro, Caixa e Bombo, sendo que o gaiteiro abre as festas sazonais
com Alvoradas, acompanha habitualmente as procissões e as danças de
"L's Palos" (mais conhecidos por "pauliteiros").
As práticas musicais e os próprios materiais de construção dos
instrumentos estão profundamente envolvidos no contexto agro-pastoril
desta região. Esta gaita está a tornar-se
bastante popular e há cada vez mais tocadores jovens a interessar-se
pela características próprias do instrumento e a querer
preservá-las intactas, sendo que nos últimos anos em Trás-os-Montes
e Miranda do Douro, se tem verificado
uma revitalização cada vez maior das práticas musicais associadas a
ele. Curiosamente, também fora da área geográfica transmontana
existe um certo público urbano que se interessa cada vez mais por
este instrumento.
(1)
Jambrina Leal, Alberto, in "Gaita-de-Foles"
- (revista da APEDGF) ; nº1 - Abril de 2001 - Pp 4-6.


Fonte: Associação
Gaita de Foles - direitos reservados.
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